sábado, 28 de fevereiro de 2009

The Angel In Me - Parte 1


Saiu sem dar explicações. Correu mais do que imaginou que fosse possivel, suas chinelas havaianas batendo no calçadão rumo a um cenário perfeito. Esbarrou sem querer em uns turistas na frente da padaria 24 horas, deviam estar voltando para casa... Chegou na praia, sentou na areia em frente por mar e começou a observar, tudo aquilo em volta dela e ela, insatisfeita com o que a cercava. Eram quatro horas da manha do dia errado e Clarisse Valdemort começou a pensar.
Lembrava do avô e as cobranças constantes, que exigiam dela um comportamento exemplar por ser uma Valdemort. Lembrou do pai transtornado, sempre nervoso, que gritava e puxava os próprios cabelos, que não queria ela por perto na maioria das vezes. Lembrou das meninas na escola que riam dela porque ela não tinha mais a mãe para lhe ajudar, para dar um conselho sobre a vida e as coisas que a constituíam. Lembrou das primas, tão bonitas, metidas, e felizes por serem rica e assinar um sobrenome difícil de pronunciar. Tantas lembranças a faziam chorar.
Olhou para a lua e prestou atenção no barulho do mar, como ela queria que se fudesse aquela porra de sociedade, como ela queria sair pela porta da frente daquela vida fútil e sem alegrias, como ela queria pegar o primeiro ônibus para a terra dos contos de fada. E foi quase isso que Clarisse fez.
Correu para casa de novo, entrou sem fazer barulhos, sem despertar o pai ou os empregados. Agarrou sua mochila Kipling e a encheu de roupas, uma sandália, o iPod e o celular, calçou o seu All Star e uma blusa de frio para se confortar. Colocou na carteira da Hello Kitty dez mil reais, que tirou do cofre por trás do retrato do bisavô na parede, em cima do piano de cauda da sala de estar. Resolveu fugir.
No ônibus ela correu e sentou no ultimo banco, do lado de um senhor negro de cabelos encaracolados e barbas por fazer.
- Oi.- ela lhe disse, com o sorriso que herdou da mãe.
- Oi.- ele respondeu sorrindo de volta.
- Moço, o senhor me ajuda?-
- Com o que menina?-
- É que sem querer me separei do meu pai e ele acabou viajando no ônibus que saiu antes desse, quando o rapaz vier recolher as passagens diz que é meu avô?-
- Digo sim. – ele sorriu. Foi isso que fizeram, e foi nisso que o rapaz acreditou. Do Rio a Sampa ela calculou umas cinco horas de viagem, mas ela chegou no seu destino as onze horas da manhã. Cansada e sem saber para onde ir, parou em uma praça e resolveu descansar.Depois de um tempo, a despertaram.
- Mariana e Marcella
P.S - Comentem e em breve publicaremos a parte 2.